O que é a lipólise?
A lipólise é o mecanismo implementado pelo organismo para degradar as gorduras para que possam ser absorvidas e utilizadas. Distinguimos 2 tipos: a lipólise gastrointestinal – que ocorre durante a digestão – e a lipólise adipocitária – que diz respeito às gorduras já armazenadas. Resumimos frequentemente esta última pela expressão “queimar as gorduras”. Como utilizá-la para emagrecer?
O desporto desencadeia a lipólise, que queima as gorduras e permite emagrecer.
A lipólise digestiva ou degradação dos lípidos alimentares
A lipólise digestiva ou degradação dos lípidos alimentares consiste em degradar as gorduras alimentares, ou seja, as que consumimos ao comer. Estas gorduras são, na grande maioria, triglicéridos, lípidos complexos e demasiado volumosos para poderem ser absorvidos. O objetivo é torná-los digestos na altura da respetiva passagem para o intestino; é nesse local que eles integram a circulação sanguínea.
A digestão dos lípidos alimentares começa no estômago, graças às lipases gástricas. As lipases são enzimas que “cortam” os lípidos. No estômago estas enzimas emulsionam os triglicéridos para os transformar em lípidos mais pequenos (essencialmente monoglicerídeos e diglicerídeos).
A produção de monoglicerídeos desencadeia depois a produção de lipase pancreática. Esta atua no intestino delgado e degrada três quartos dos triglicéridos ingeridos. É também no intestino delgado que intervêm os ácidos biliares (contidos na bílis). Segregados pelo fígado e armazenados na vesícula biliar, estes ácidos facilitam a digestão dos grandes lípidos emulsionando-os em pequenas gotículas. Assim digeridos pela ação comum das lipases e dos sais biliares, os lípidos são absorvidos através da mucosa intestinal. Em caso de excesso de gorduras alimentares, estas são armazenadas na forma de triglicéridos nos adipócitos. Chama-se a isso a lipogénese.
A lipólise adipocitária
Em caso de esforço físico, a lipólise adipocitária elimina as gorduras armazenadas no tecido adiposo.
Os adipócitos são células dedicadas ao armazenamento das gorduras; trata-se do stock principal de energia disponível no organismo. Os conjuntos de adipócitos formam o tecido adiposo, que encontramos em proporção e em posições diferentes em função dos indivíduos. Os homens têm tecido adiposo sobretudo ao nível abdominal, ao passo que na maioria das mulheres o encontramos ao nível das ancas, coxas, barriga e peito. O excesso de gorduras origina, nomeadamente, uma forma de celulite, responsável pela famosa “casca de laranja”.
A lipólise adipocitária verifica-se quando o organismo tem necessidade de energia (atividade física, jejum…) e não consegue obtê-la diretamente através da alimentação.
Nestas condições, o organismo envia sinais hormonais (adrenalina, noradrenalina, cortisol, grelina…) que desencadeiam uma cascata metabólica que resulta na mobilização das lipases (mais uma vez elas!). Estas vão degradar os triglicéridos presentes nos adipócitos, libertando glicerol, ácidos gordos e… energia. O glicerol é, no essencial, eliminado pelos rins. Os ácidos gordos, por seu lado, têm dois destinos possíveis. Podem ser degradados nas mitocôndrias celulares para a produção de energia (beta oxidação). Quando estão presentes em excesso, podem também servir para a produção de corpos cetónicos no fígado. Estes podem servir de fonte de energia para o cérebro em caso de carência de glicose. São produzidos particularmente em caso de jejum prolongado e são tóxicos, quando em excesso. Atenção, por conseguinte, à prática do jejum sem supervisão!
Como potenciar a lipólise e, consequentemente, emagrecer?
Para queimar as gorduras armazenadas no tecido adiposo, perder peso e emagrecer, é preciso solicitar energia ao organismo. Para tal, existem várias soluções naturais eficazes:
• A atividade física duradoura provoca a secreção de adrenalina e de noradrenalina, que têm como efeito a mobilização das reservas corporais de açúcar (glicogénio do fígado e dos músculos) e de gorduras (triglicéridos adiposos). A hiperglicemia e a lipólise observadas fornecem energia que pode ser utilizada diretamente pelo corpo durante o exercício físico. O desporto leva também comodamente a uma diminuição do nível de insulina por forma a garantir uma glicémia e um aporte de energia constantes. Recomendamos privilegiar os esforços físicos regulares e de longa duração para mobilizar o máximo de gorduras possível!
• O jejum intermitente, ou “periodic fasting” é uma versão mais suave do jejum, frequentemente demasiado penoso para o organismo. Consiste em manter-se em jejum durante dezasseis horas. Aplica-se frequentemente entre o jantar (cedo) e o almoço, saltando o pequeno-almoço. É também possível saltar uma das duas outras refeições principais. Esta forma de restrição calórica ativaria nomeadamente uma classe de enzimas – as sirtuinas – que teriam uma ação positiva na lipólise